Por Marcelo Sena
Gladston Figueiredo diz que ações da Assessoria Técnica ficarão comprometidas caso dinheiro investido em matriz de danos seja devolvido à Fundação Renova. Valores estão estimados em R$1,5 milhão
Quatro anos depois do rompimento da barragem de Fundão, uma das conquistas apresentadas pelo promotor Guilherme Meneghin foi a implantação de uma Assessoria Técnica aos atingidos de Mariana. O trabalho, executado pela Fundação Cáritas Brasileira, está ameaçado devido a uma disputa judicial que aborda o bloqueio das contas da Fundação Renova.
Quem explica a situação é o Coordenador Operacional da Cáritas em Mariana, Gladston Figueiredo. Em entrevista exclusiva ao jornal O Liberal, Gladston defendeu a existência da matriz de danos e revelou a preocupação de uma possível devolução, à Fundação Renova, dos recursos investidos no trabalho. Isso, segundo Gladston, comprometeria todo o trabalho da Cáritas Brasileira ao longo da bacia do Rio Paraopeba.
“Por causa da disputa judicial em que estamos, corre-se o risco da Cáritas necessitar devolver o recurso que já foi pago para a confecção da matriz. Algo em torno de R$ 1,5 milhão. A Cáritas, a essa altura do campeonato, se se vir descapitalizada nesse valor, vai sofrer um baque muito grande em todo o processo de assessoramento que está acontecendo aqui na bacia. Por isso os atingidos têm ido lá lutar para que não aconteça”, argumentou o coordenador da Cáritas.
Gladston Figueiredo explicou como funciona a Assessoria técnica desenvolvida pela Cáritas Brasileira em Mariana. “Ter uma assessoria técnica pressupõe a existência de um grupo de profissionais de diversas áreas do conhecimento, que ajudem a interpretar aquilo que as empresas apresentam aos atingidos, para que eles tomem a sua decisão. Uma característica fundamental da AT é o respeito à independência e ao protagonismo do atingido. A gente apresenta ao atingido as opções que existem e quais as consequências dessa ou daquela escolha que a comunidade fizer. Mas é sempre a comunidade atingida que define o que vai ser feito”.
O coordenador ressaltou também o pioneirismo de ações de assessoramento, diante do maior crime ambiental da história do Brasil. “Outra questão importante de pontuar é o ineditismo da Assessoria Técnica em Mariana. Foi o primeiro acidente/crime desse porte no Brasil e, consequentemente, nós fomos a primeira assessoria. Esse ineditismo traz ônus e bônus. Muitas das coisas implantadas aqui foram verdadeiros desbravamentos, dentro de um cenário onde não existia ainda a ideia do que realmente seria uma assessoria técnica. Em nenhum momento nós falamos pelos atingidos. O atingido é quem fala de si. O que buscamos é criar espaços para que o atingido tenha voz e vez. A assessoria é um direito, não uma obrigação. O atingido pode prescindir da participação da assessoria da Cáritas nas mais diversas modalidades, como nas discussões sobre o reassentamento ou sobre as indenizações. O atingido pode não escolher pela assessoria e ainda assim ser assessorado? Por exemplo, nós comunicamos a eles que o caminho “A” apresenta esse ou aquele problema e ele ainda assim pode optar pelo caminho “A”. O nosso papel é único e exclusivamente trazer os elementos para que a pessoa decida qual caminho seguir”, finalizou Gladston Figueiredo, Coordenador Operacional da Cáritas Brasileira em Mariana.